domingo, 25 de novembro de 2007

Recado

Como você me tortura com a sua sensualidade casual e ímpar e seus recadinhos pós-noitada. Ah, Deus, você merece o inferno! (e uma noite comigo)

quinta-feira, 20 de setembro de 2007

Agora Vai!

Te vi ali.
Te vi aí.
Te vi aqui.

Estive em todos os lugares à sua procura.

E que esforço faço para não fazer a minha vontade
De te envolver por todos os lados...

Você se aproximou.
Eu pensando que para pedir um beijo,
Mas foi apenas para um cigarro.



PS: Esse poema teve, propositalmente, teor cômico.

terça-feira, 18 de setembro de 2007

Perigo

Quero você de cabelo solto,
Olhando para o espelho
E pensando: "Será que me atrevo
A deixá-lo louco?"

Te queria pra agora.
De qualquer forma.
Envolveria em ti meus braços.
Te beijaria aos amassos.

O Iluminado

Ele coloca seu capuz e atravessa o corredor calado
Para não ser notado por aqueles que o conhecem
E para que os que não o conhecem não sintam vontade.
E a probabilidade d'ele ficar escondido
Nas sombras de seu esconderijo
Sem que ninguém possa notar seus olhos azuis
É tão pouca que, algumas vezes, ele tem de fingir não ver
Para que possa ter cinco minutos,
Apenas cinco minutos de privacidade.
Para que nesse tempo consiga concluir tudo o que começou.

Isolado do que o cerca
Ele liberta seus demônios, que são seus poderes,
Que dizem sobre os sentimentos ocultos,
Que revelam os segredos alheios.
Através deles ele sabe quando e por que alguém o ignora.
Sabe quando há uma conspiração contra sua pessoa
Dentro do meio em que vive.
Sabe ler os lábios antes da boca abrir.
Ele consegue ser o que todos gostariam,
O que todos odeiam,
Consegue ser prestativo e inútil,
Um substituto e um apoio a quem precisa de ajuda,
E um produto ridículo e descartável
Quando quem foi ajudado encontrou uma outra pessoa.

quinta-feira, 6 de setembro de 2007

O Último Suspiro do Apelador

E seu último apelo foi:
"Aos que não gostam de mim,
venham e usem da minha arma para me executar"
E ainda hoje não entendi
Aquele seu fascínio pela morte.
(Só eu sei como o atraía).
Várias formas encontrou
De trazer para dentro de si
A companhia da figura de manto e de foice.

E foi-se. Tão distante que não o vejo desde então.
Foi-se em busca de seu prazer
E sei que encontrou dentro da ferida.
Numa de suas cartas que me escrevera,
Disse que arrancou a casquinha que todos cutucavam
Quando acordado ou quando dormindo,
E enfiou o dedo indicador
Com a unha a fazer
Para encontrar o prazer que tanto sonhou.

O sangue esparramado inundando o quarto
E os gritos segurados soltos num único ato.
Apelou num berro assustado
Seus anseios e os temores,
A vida e seus valores,
As conquistas e suas dores.
Apelou num único ato,
Dando a quem seria Judas,
Sua arma carregada
E pedindo a quem o ama
Que desse o tiro à beira da escada.

Desejos de Ninguém

Nada é para sempre.

Por isso não te quero.
Nem quero um afago.
Tampouco um carinho.
De amor nem falo.

Não digo compreensão,
Dinheiro, diversão...

Uma bebida é dispensável.
Uma mulher também, talvez.

Só quero o que é durável!

A coisa que pode ser levada
Por entre os tempos, o instável.
E é por isso que te digo:
Eu quero o nada!

segunda-feira, 3 de setembro de 2007

A Última Ceia

Quando eu morrer
Cada um sentirá o gosto da minha morte diferente.
Saborearão o doce gosto da liberdade,
O amargo e triste fim de um jovem.
Sentirão através de mim,
A essência de ser mortal
E a sensação da eternidade.
A minha morte apimentará a vida de muitos
E servirá de alimento para outros.
Sentirão, alguns, o salgado de uma lágrima só.
Se deliciarão com os pedaços das boas memórias.
Me engolirão forçados, obrigando a descer
As palavras que citei quando estava apaixonado.
Cuspirão os meus bagaços, o meu vestígio.
Me deixarão de lado, me jogarão no lixo.

Quando eu morrer
Cada qual sentirá o gosto da minha morte diferente.
Degustarão das minhas dores e me julgarão.
Criticarão as minhas atitudes e me condenarão.
E o gosto azedo das minhas qualidades
Causará indigestão àquele que me consumir.
Minha carne será como a carne suculenta de um porco.
Porém, contaminada com as cicatrizes do amor.
Envenenarão o que me resta
E darão aos cães e gatos de rua.
Descartarão todas as minhas filosofias,
Já com o prazo de validade vencidas.
Tomarão de mim os meus erros.
E quem se lembrar das minhas lágrimas
Terá de conviver com azia
Para todos os longos dias do resto de sua vida.

Mais uma sem título, mas é algo como "Devaneio Dentro de um Momento de Devaneio"

Andei de moto a tarde toda,
e que vontade louca de tê-la na garupa
pra sentir suas pernas encostarem-se nas minhas
e recostar minhas costas em seu peito,
imaginar-me no leito de seu colo
e ter o toque de suas mãos em mim
e poder tocar as pontas dos seus dedos
macios, frios de vento...
mas que lindo devaneio!

domingo, 2 de setembro de 2007

hominis femina vitam delet

Mais uma que passou em minha vida.
Que passou deixando rastros e marcas.
Manchas as quais comigo carregarei
Dia após dia lamentando a partida.

O brilho no olhar que só ela tinha
Conduz a minha podre vida às lágrimas,
Às lamentações co' as quais viverei
E ao medo d' sentir demais sua partida.

Contigo poderia ter vivido
E me declarado apaixonado.
Passaria a eternidade contigo.

Foi uma pena termos nos distanciado,
Ter de aprender a controlar libido.
Adoraria ter vivido ao teu lado!

Poema Sonoro

Olho no fundo dos olhos
dos olhos que não me olham mais.
E lembranças me laçam
entre lentes de delírio
e visões de alentar.
Me lembro do tempo
em que lembravas de mim.
(Sei que agora não lembras mais).

É lentamente que uma lágrima
me escorre o rosto
levando e lavando
minhas memórias, meus planos.

É lentamente que uma lágrima
me escorre o rosto
quando te digo que não gosto
de lembrar de ti.

(Porque eu também minto!
E minto quando digo que
de ti, assim, fácil, me esqueci).

Vi além do que as lembranças
poderiam me alentar
quando descobri que, de ti,
vivo de, nada mais, que lembrar.

sábado, 1 de setembro de 2007

Uma poesia idiota, mas bonitinha. (e sem título)

Para onde vai agora
Que a música acabou,
O sorriso fechou,
A cerveja acabou,
O bêbado caiu,
O tempo está frio,
O beijo encerrou,
Minha mão a pegou...
Para onde vai agora?
Diga-me que também vou.

sexta-feira, 31 de agosto de 2007

sem o devido título ainda

Eu me deito pra dormir
E sinto falta de quem
Nunca esteve aqui,
No meu leito,
Pra encostar sobre seu peito
A minha saudade,
A minha vontade,
O meu desejo de você.
Pra tirar dos meus olhos
As fotos, o escorrer de ilusões
que lacrimejam no meu rosto.
Quero uma noite em seu repouso.
Quero que pouse sobre mim o seu sono.
E que seus sonhos
Sejam sobre o pouco tempo que tivemos.
Espero que na oração
Peça que tenhamos mais e mais,
Porque só o mais não é suficiente
Para acalmar e reconstruir
Esse pobre e ferido coração que nos pertence.

domingo, 26 de agosto de 2007

O Gotejar do Dia

Hoje o dia pinga em gotas tristes.
Não me diga as horas.
Quero sentir cada uma delas.




OBS: Deve ser um haicai esse.

O Fundo do Poço

Eu sou o fundo do poço!
Sou onde ninguém jamais chegou.
Sou o fundo do poço!
O sonho e o medo de todos.

Sou a ausência da libido,
A falta de bom-senso,
O excesso de tormento,
A presença do temido.

Eu sou o amor e a indiferença,
O ódio e o dar a vida,
A poesia esquecida,
A dor que volta com freqüência.

Sou o olhar vazio,
O breu sombrio,
O lugar úmido,
Desejo mais profundo.

Eu sou a morte certa.
Sou cega como amar.
Sofro e continuo.
A insistência no confiar.

Sou o que pode ser o fim.
Final do poço ou da vida,
O começo de uma partida.
Sou o infinito em fim.

A encarnação da tristeza.
Sou uma alma viva sem beleza.
A música sem notas,
A anotação com pressa.

Sou a meditação sem paciência.
Um deus não adorado,
Um fiel sem religião,
O ateu inseguro na ciência.

terça-feira, 21 de agosto de 2007

Certo Por Linhas Tortas

Resolva alguns problemas.
A verdade está dentro de ti.
Fale algumas palavras.
A verdade está dentro de ti.
E cada vez que eu te vejo triste,
lembro de quanto te fazia sofrer.
Mas não fique mais assim.
Imperdoáveis foram os meus erros, que
rapidamente me arrependi.
Ainda estou perdoado?
Não vou mais errar assim.
Durante muito tempo,
acordava todas as noites.
Depois ficava acordado
umas três ou quatro horas mais.
Rasguei um pedaço do meu pijama,
amarrei uma linha nele e,
num lugar muito especial, escrevi
"Te amo!"
E, mesmo assim, tenho medo de errar outra vez.

domingo, 19 de agosto de 2007

Elegia à Alegria

Felicidade, tu não és para mim.
Quem a mim te traz é de má índole.
A mim te entrega, depois tira
Antes de eu contemplar tuas mentiras.

quinta-feira, 16 de agosto de 2007

Ciclo

Isto foi apenas uma verborragia.


"Saudade é onivivida
Uma vez que vivo.
A vida em pedaços,
Dentro dela somos cacos.
Meros pedaços de vidro,
Utilizados a um caso
Depois descartados.
Ninguém é insubstituível.
Onivivência é giratória.
Você sente a mesma coisa,
Mas aquilo roda, roda e roda."

Engatinhar

Engatinhar durante anos
Até encontrar alguém
E descobrir a proximidade
Entre o amor e o ódio;
E a semelhança entre
O ódio, a morte a si.

Engatinhar. E ferir-se.
Com dores lombares,
Joelhos e palmas esfolados;
Com calos, pus, sangue,
Infecções e exposição da carne.
Carne viva, coração morto.

Muitas vezes, enquanto carregar alguém,
Ouvir gritar, do cume de suas costas,
Algo como "eu te odeio!"
Porém, por estar em níveis diferentes,
Entender "eu te amo!",
Empolgar-se
E a levar mais adiante.


OBS: Imagine a cena.

Lucidez pra quem?

Está chovendo lá fora.
(É uma ótima noite para um velório).
Então eu vou para minha casa
Pegar o meu buquê e me arrumar pra te ver.
Se ainda não estiver morta,
Eu a mato - para que tenhamos um pouco de diversão.
Afinal, seria bem mais fácil
(já que é tão difícil ser compreendido hoje em dia).
Se lá na Lua, para onde irá,
Estiver frio e deserto,
Me chame! Puxe meu pé à noite
Para que possamos passear.

Eu só quero um pouco de diversão.

Vamos procurar a morte
E desafiá-la a uma partida de xadrez.
Ou você ainda prefere sua inútil lucidez?

Quando você fica lúcida, fica triste.
(É quando percebe que o mundo existe).

quarta-feira, 8 de agosto de 2007

Poesia Esquecida

Ter tudo...
É não ter parâmetros!
É estar próximo de perder
O valor que se tem pela vida.

O imprevisível é esperado
E o inesperado é cotidiano.
Qualquer coisa que aconteça
É como se já tivesse acontecido.

Então o fim é a derrota certa.
E estar derrotado
É ter a sensação
De que nada mais é o suficiente.

O sexo, o amor,
A perda, a glória,
A luta, a conquista...
Partes d'uma poesia esquecida.



(Inspirada em duas frases em especial: "no fim de uma vida sem limites o que sobra é só a sensação de que nada é suficiente" e "o desejo é a falta; o frio na barriga, uma nova experiência").

segunda-feira, 6 de agosto de 2007

Muzimo

Só o silêncio me atrai.
Quero beber da água sem o barulho d'ela caindo no vidro.
Quero atravessar o corredor à noite sem ser ouvido.

Só o silêncio me atrai.

Fechar a porta sem ruído:
Quero.
Ser esquecido:
Também.

Quero um telefone que não toque.
Não quero ser tocado por ninguém!

Quero só ouvir os gritos.
Só os não direcionados a mim.
Mas nunca mais eu quero gritar.
Mas nunca mais eu quero gritar.
Mas nunca mais eu quero...
Mas nunca mais eu...
Mas nunca mais...
Mas nunca...
Mas...


(OBS: na hora de ler o final repetitivo do poema, leia em ritmo constante, respire nas reticências e diminua o volume paulatinamente)

sábado, 28 de julho de 2007

Aborto

É hora de encravar em mim
minhas próprias unhas.
Cavocar dentro do meu próprio peito
E arrancar à força
O que foi construído naturalmente.
Arrancar de forma brutal
O que alimentei.
Dar à minha mão,
O prazer de cotucar carne fresca.
E ao meu corpo,
A dor de ter sua carne arrancada.
Raspar como se, com uma espátula,
Todo o câncer espalhado,
Toda a carne apodrecida,
Todo o amor acabado.
É hora de uma auto-cirurgia,
Sem anestesia,
Sem médico,
Sem ninguém.
Planos desgastados,
Sonhos mal-sonhados...
É um aborto, droga!

sexta-feira, 27 de julho de 2007

Aperto no Ônibus

Certo dia, saí da dentista, ainda com a anestesia a todo vapor, mal conseguia falar, porém tinha de pegar o ônibus mesmo assim – era quase uma hora entre um ônibus e outro no ponto, e a viagem levava em torno de noventa minutos até a minha casa. Era um dia até que bonito, se pensar bem. Não havia aquele sol escaldante, nem muitas nuvens no céu. O que estragava era a previsão do tempo: chuva no final de semana – ou seja, em dois dias eu teria de cancelar o que já havia programado. Que porcaria! Além disso, havia o fato de o ônibus parar cerca de dois quilômetros da minha casa.

Tomei o primeiro ônibus que me cabia. Entrei sozinho, subi os três degraus e, curiosamente, o motorista daquele dia esperou até que eu subisse por completo – geralmente eles aceleram quando estou recolhendo o segundo pé para dentro do carro.

— Bom dia! – tentei falar anestesiado.

— É sim, é meu primeiro dia. Eu fazia uma outra linha. Mas acho que dou conta desta aqui. – ele respondeu.

Mesmo sem entender nada, resolvi continuar o papo:

— Que interessante. Mas você conhece bem a cidade, não? Acho que não vai ter problema.

— Mais ou menos. Eu fazia uma outra linha numa outra cidade. Mas aqui tá tudo tranqüilo.

— Certo, certo. – e resolvi me sentar no espaço reservado para isentos até chegar mais perto do meu ponto.

Passou-se algum tempo, comecei a notar uma paisagem um tanto quanto estranha para aquele roteiro. Tudo bem que eu costumava dormir naquele trecho, mas não me recordava de absolutamente nada daquele lugar.

Por um instante pensei que ele poderia ter errado o trajeto. Logo descartei a idéia: havia outros dois passageiros mais o cobrador, e alguém se manifestaria caso acontecesse.

Tentei, mas aquela sensação de que algo estranho havia naquele dia não passava. Daqui algum tempo a vegetação mudaria de mata atlântica para araucária. Um absurdo!

Tinha um compromisso com minha esposa e não podia chegar atrasado em hipótese alguma. A essa altura eu já estaria acordado e o caminho realmente não era o de costume. Não agüentei e fui até o motorista:

— Com licença, senhor. Não que eu duvide do seu conhecimento viário-trajetorial, mas acredito que este não é nosso caminho comum, né?

Torcendo sua cabeça para trás, balançou um leve não com a cabeça e, neste instante, gritei:

— Cuidado com a bicicleta, cara!

— Mas, hein? – disse, voltando rapidamente a cabeça para frente.

Por sorte não colidiram, mas o motorista, pobre coitado, entrou em estado de choque. Ficou pasmo, com náusea, pálido e sem condições de seguir viagem. Estava à beira do desmaio. Perguntei desesperado (tanto com o motorista como com o meu atraso) ao cobrador se aquele trajeto era novo. Ele não soube me dizer. Explicou-me que era primo do motorista, e que haviam chegado à cidade há uma semana. E também era a segunda vez que eles estavam nesta linha: a desgraça que eu precisava para o meu dia!

Com o motorista semiconsciente, resolvi tomar a direção do ônibus. Não tinha a carta necessária, mas a pressa sim. Tinha alguma experiência no volante e acreditei que seria o suficiente para a ocasião.

Perguntei ao primeiro transeunte onde estávamos. Consegui me localizar e segui adiante. Logo retomei o curso normal do ônibus (e o motorista, o curso normal da consciência). Desceram os dois passageiros, agora éramos apenas três: eu, o motorista e o cobrador.

Pensei comigo que seria uma grande oportunidade de acabar com os dois quilômetros existentes entre minha casa e o ponto de ônibus. Mas antes que pudesse me manifestar, alguém acenou da rua para parar o ônibus. Parei e entraram cinco passageiros. Acredito que ninguém tenha reparado no que acontecia lá dentro.

O motorista, já melhor, sentou-se na primeira cadeira e prestou atenção no caminho inteiro. Conversamos bastante, ele e seu primo eram migrantes. Estavam tentando uma vida melhor por estes lados: a grande ilusão da sociedade brasileira.

Conforme andávamos, mais passageiros entravam. Quando me dei conta de que estava perto do meu ponto, notei que o ônibus estava lotado, cheio de gente. Parei no ponto que me era adequado, expliquei ao motorista o caminho que ele deveria seguir e fui embora descrente do que me havia acontecido.

Fiquei olhando o veículo partir. E, conforme ele se afastava, minha tensão de chegar atrasado em casa aumentava. Já podia sentir as palavras agudas da minha esposa rasgar meus ouvidos. E, num último olhar para o ônibus que dei, notei que ele havia pegado o caminho o qual eu tinha dito para não pegar em hipótese alguma – era o caminho que levava para o centro da favela mais perigosa da região. Pensei comigo, então: “puta que pariu!” e fui pra casa.

quarta-feira, 25 de julho de 2007

Comentários

Bom dia quase boa tarde a todos!

Bem, o que são os comentários para quem escreve? O comentário pode massagear o ego, como destruí-lo. Um comentário pode ser falso e pode ser verdadeiro. Crítico de forma construtiva ou não. Há várias formas de comentários, e eu apreciaria muito se todo mundo que lesse as postagens, comentasse alguma coisa a respeito. Críticas são sempre bem vindas. Não elogiem caso não tenham gostado realmente, mas não humilhem caso o trabalho tenha sido ruim. As críticas ajudam o autor a desenvolver melhor suas técnicas, e é esse o resultado final que quero delas. Opinem! Dêem dicas, sugestões, fiquem à vontade!

Muito obrigado!
=)

Conto: Potinho de Ferro

Chega o homem em casa do supermercado, com os dois braços peludos e musculosos cheios de sacolas. Trazia nelas a lista que fizera na tarde de ontem, logo depois de varrer o chão da cozinha e notar a falta de frutas na cesta que repousa diariamente no centro do cômodo. Ela, a mulher da casa, assistia à seleção masculina de vôlei na televisão e pensava consigo, com uma latinha de cerveja na mão e apoiada sobre a barriga moldada na forma de uma esfirra aberta, que seu namorado bem que poderia ter um belo par de coxas como as daqueles jogadores.

Ele era um homem com qualidades difíceis de encontrar hoje em dia: lavava a louça, limpava a casa, cuidava do cachorro, fazia a comida, arrumava a cama, lustrava os móveis, não deixava respingos e dava descarga. Ela, a pessoa que sustentava a casa financeiramente, era ciumenta, vivia no bar após o trabalho, flatulava à noite na cama, roncava como uma porca e passava, às vezes, dois dias sem tomar banho. Isso frequentemente o incomodava, mesmo porque ambos, o odor e a trovoada, podiam ser percebidos à distância.

Logo após colocar as compras na cozinha, o homem sobe para seu quarto. Despe-se da camiseta laranja, da calça comprada no brechó a preço de banana, e do par de tênis de cadarços pisados e rasgados. Lero-lereia (como a bruxa da Branca de Neve) com o espelho sobre si mesmo e suas milhares de paixões espalhadas pela cidade (cada uma com uma qualidade e um número de telefone diferente) enquanto se prepara para um banho quente.

Ela, a mulher, repara e avalia atentamente os jogadores da seleção. Anota tudo num caderninho que tem especialmente para esse fim. Tenta chegar a uma conclusão, porém fica cada vez mais difícil entre uma dose e outra. Foi-se a dúzia de latinhas. Foi-se a quinta dose de uísque. Foi-se o segundo maço de cigarros. Foi-se o amor pelo namorado.

Quando o banheiro está coberto de fumaça e o ambiente já está quente o suficiente, ele liga o rádio no volume máximo para ouvir sua música preferida (que, coincidentemente, é a música que ela mais detesta), que ele só ouve quando está sozinho em casa. Liga o rádio e cantarola como uma gralha em ato de acasalamento.

De repente, a música que ela mais detesta na vida começa a tocar e a desconcentra dos pensamentos livres de pudor que tinha com o número 6 da seleção. “Ah, desgraçado! Só pode ser você de novo com essa música infernal!”. E bufando sobe as escadas, seus passos podiam ser sentidos de longe para alguém que tivesse o mínimo de sensibilidade táctil. Chega em frente à porta do banheiro e a esmurra:

— Desgraçado! Desliga essa porcaria de rádio!

E um silêncio irritante e barulhento permanece do lado de dentro do banheiro. Tenta novamente:

— Caramba, vamos desligar isso aí? O que cê tá ouvindo não é música, cara! Desliga essa porcaria de Backstreet Boys!

Eis que ele surge de supetão:

— O quê? Quando é o churrasco no Luis? Desculpe-me pela música, não vi que estava em casa.

— Que desculpa esfarrapada. Larga a mão de ser mané, meu filho. Você sabe muito bem que quando tem jogo da seleção eu fico com o caderninho na mão, poxa.

— Olha... pode parar com isso, hein? Tá pensando o quê? Eu te conheço na “tpm”, bem. Não tem porque te provocar, querida. Relaxa, vai. Toma mais uma dose de uísque e vai lá ver seu jogo, que deve estar quase acabando.

Puta que pariu! Quase me esqueci do jogo...

— Então corre, corre, senão eu conto pro seu namorado desse caderninho, hein? Ele não vai gostar nada disso.

Se você contar, já era. Vai ter que arrumar um outro lugar pra morar, bicha desgraçada.

E desceu para a televisão com a cara fechada e seus tropeços pela escada.

Ela e ele: a formiga e a cigarra. Ele entrou no quarto, abriu sua gaveta, pegou um potinho de ferro, sacou a tampa e contou seus trezentos reais guardados para a noitada de drogas e álcool desta mesma noite. Sorriu, guardou tudo como havia encontrado, vestiu-se decentemente e desceu para seu tradicional chá de concentração das sete.

terça-feira, 24 de julho de 2007

Primeira Postagem

Boa noite!
Resolvi abrir um Blog a fim de expor minhas idéias, poesias, contos e tudo mais que achar interessante para a sociedade.
Quanto ao título, praeposterus, é um adjetivo latino que significa "que é contrário, inverso; que perturba a ordem pública". E é bem por aí o objetivo deste blog: perturbar a ordem natural da sociedade. Nada rebelde, apenas de teor pensativo.
Abraço a todos.

Para início, um poema:

"Explicar as coisas do coração;
Entender o que não dá pra se ver:
Coisas difíceis de se aplicar,
Quase impossíveis de aceitar.
O que acontece dentro de mim,
Que quando te vejo fico assim?
Uma hora e quarenta minutos sem te ver.
Não entendo o que está acontecendo,
Onde está você?
Poderia fazer uma companhia
Tão agradável quanto sadia.
Poderia ser tão belo
Quanto o fazer tudo que eu quero.
Deveria ser tão diferente do que é!
Ter a visão das coisas;
Como conseguir o que se quer
E poder muito confiar nas pessoas.

Rafael Miranda Durante