sexta-feira, 31 de agosto de 2007

sem o devido título ainda

Eu me deito pra dormir
E sinto falta de quem
Nunca esteve aqui,
No meu leito,
Pra encostar sobre seu peito
A minha saudade,
A minha vontade,
O meu desejo de você.
Pra tirar dos meus olhos
As fotos, o escorrer de ilusões
que lacrimejam no meu rosto.
Quero uma noite em seu repouso.
Quero que pouse sobre mim o seu sono.
E que seus sonhos
Sejam sobre o pouco tempo que tivemos.
Espero que na oração
Peça que tenhamos mais e mais,
Porque só o mais não é suficiente
Para acalmar e reconstruir
Esse pobre e ferido coração que nos pertence.

domingo, 26 de agosto de 2007

O Gotejar do Dia

Hoje o dia pinga em gotas tristes.
Não me diga as horas.
Quero sentir cada uma delas.




OBS: Deve ser um haicai esse.

O Fundo do Poço

Eu sou o fundo do poço!
Sou onde ninguém jamais chegou.
Sou o fundo do poço!
O sonho e o medo de todos.

Sou a ausência da libido,
A falta de bom-senso,
O excesso de tormento,
A presença do temido.

Eu sou o amor e a indiferença,
O ódio e o dar a vida,
A poesia esquecida,
A dor que volta com freqüência.

Sou o olhar vazio,
O breu sombrio,
O lugar úmido,
Desejo mais profundo.

Eu sou a morte certa.
Sou cega como amar.
Sofro e continuo.
A insistência no confiar.

Sou o que pode ser o fim.
Final do poço ou da vida,
O começo de uma partida.
Sou o infinito em fim.

A encarnação da tristeza.
Sou uma alma viva sem beleza.
A música sem notas,
A anotação com pressa.

Sou a meditação sem paciência.
Um deus não adorado,
Um fiel sem religião,
O ateu inseguro na ciência.

terça-feira, 21 de agosto de 2007

Certo Por Linhas Tortas

Resolva alguns problemas.
A verdade está dentro de ti.
Fale algumas palavras.
A verdade está dentro de ti.
E cada vez que eu te vejo triste,
lembro de quanto te fazia sofrer.
Mas não fique mais assim.
Imperdoáveis foram os meus erros, que
rapidamente me arrependi.
Ainda estou perdoado?
Não vou mais errar assim.
Durante muito tempo,
acordava todas as noites.
Depois ficava acordado
umas três ou quatro horas mais.
Rasguei um pedaço do meu pijama,
amarrei uma linha nele e,
num lugar muito especial, escrevi
"Te amo!"
E, mesmo assim, tenho medo de errar outra vez.

domingo, 19 de agosto de 2007

Elegia à Alegria

Felicidade, tu não és para mim.
Quem a mim te traz é de má índole.
A mim te entrega, depois tira
Antes de eu contemplar tuas mentiras.

quinta-feira, 16 de agosto de 2007

Ciclo

Isto foi apenas uma verborragia.


"Saudade é onivivida
Uma vez que vivo.
A vida em pedaços,
Dentro dela somos cacos.
Meros pedaços de vidro,
Utilizados a um caso
Depois descartados.
Ninguém é insubstituível.
Onivivência é giratória.
Você sente a mesma coisa,
Mas aquilo roda, roda e roda."

Engatinhar

Engatinhar durante anos
Até encontrar alguém
E descobrir a proximidade
Entre o amor e o ódio;
E a semelhança entre
O ódio, a morte a si.

Engatinhar. E ferir-se.
Com dores lombares,
Joelhos e palmas esfolados;
Com calos, pus, sangue,
Infecções e exposição da carne.
Carne viva, coração morto.

Muitas vezes, enquanto carregar alguém,
Ouvir gritar, do cume de suas costas,
Algo como "eu te odeio!"
Porém, por estar em níveis diferentes,
Entender "eu te amo!",
Empolgar-se
E a levar mais adiante.


OBS: Imagine a cena.

Lucidez pra quem?

Está chovendo lá fora.
(É uma ótima noite para um velório).
Então eu vou para minha casa
Pegar o meu buquê e me arrumar pra te ver.
Se ainda não estiver morta,
Eu a mato - para que tenhamos um pouco de diversão.
Afinal, seria bem mais fácil
(já que é tão difícil ser compreendido hoje em dia).
Se lá na Lua, para onde irá,
Estiver frio e deserto,
Me chame! Puxe meu pé à noite
Para que possamos passear.

Eu só quero um pouco de diversão.

Vamos procurar a morte
E desafiá-la a uma partida de xadrez.
Ou você ainda prefere sua inútil lucidez?

Quando você fica lúcida, fica triste.
(É quando percebe que o mundo existe).

quarta-feira, 8 de agosto de 2007

Poesia Esquecida

Ter tudo...
É não ter parâmetros!
É estar próximo de perder
O valor que se tem pela vida.

O imprevisível é esperado
E o inesperado é cotidiano.
Qualquer coisa que aconteça
É como se já tivesse acontecido.

Então o fim é a derrota certa.
E estar derrotado
É ter a sensação
De que nada mais é o suficiente.

O sexo, o amor,
A perda, a glória,
A luta, a conquista...
Partes d'uma poesia esquecida.



(Inspirada em duas frases em especial: "no fim de uma vida sem limites o que sobra é só a sensação de que nada é suficiente" e "o desejo é a falta; o frio na barriga, uma nova experiência").

segunda-feira, 6 de agosto de 2007

Muzimo

Só o silêncio me atrai.
Quero beber da água sem o barulho d'ela caindo no vidro.
Quero atravessar o corredor à noite sem ser ouvido.

Só o silêncio me atrai.

Fechar a porta sem ruído:
Quero.
Ser esquecido:
Também.

Quero um telefone que não toque.
Não quero ser tocado por ninguém!

Quero só ouvir os gritos.
Só os não direcionados a mim.
Mas nunca mais eu quero gritar.
Mas nunca mais eu quero gritar.
Mas nunca mais eu quero...
Mas nunca mais eu...
Mas nunca mais...
Mas nunca...
Mas...


(OBS: na hora de ler o final repetitivo do poema, leia em ritmo constante, respire nas reticências e diminua o volume paulatinamente)