quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

Projeção Astral

Ele cavou uns seis ou sete palmos no chão
E então enterrou seu próprio corpo.
Cobriu-se de terra como se cobre com cobertor,
Fechou os olhos e caiu num sono profundo.
Chorou ao ver seu próprio corpo enterrado.
Caiu em lágrimas quando enviou a si mesmo um telegrama
Avisando que agora ele estava morto.
Não se conformava por ter perdido o enterro de si mesmo.
Então, como homenagem,
Comprou algumas flores e foi ao cemitério,
Caminhou até sua própria cova
E as deixou ali em cima. Escurecia.
Orou pela salvação daquela pobre alma enterrada,
Sentou-se aos pés do túmulo
E ficou acompanhado de si mesmo até amanhecer.
Lembrava-se das coisas que fazia escondido
Quando ainda estava vivo.
Aquilo o machucava bastante.
Farto de tolerar e de suster-se em agror,
Decidiu recomeçar a vida novamente.
Levantou-se então, dos pés da cova,
Desenterrou seu cadáver pálido,
Tirou-o do caixão
E saiu andando rumo à construção de sua história...

Mas deu uns dois ou três passos e caiu.
Foi quando se deu conta de que não estava mais vivo.
E, sem ninguém para colocá-lo na cova novamente,
Seu corpo ficou deitado e jogado ali mesmo, eternamente.