quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

Projeção Astral

Ele cavou uns seis ou sete palmos no chão
E então enterrou seu próprio corpo.
Cobriu-se de terra como se cobre com cobertor,
Fechou os olhos e caiu num sono profundo.
Chorou ao ver seu próprio corpo enterrado.
Caiu em lágrimas quando enviou a si mesmo um telegrama
Avisando que agora ele estava morto.
Não se conformava por ter perdido o enterro de si mesmo.
Então, como homenagem,
Comprou algumas flores e foi ao cemitério,
Caminhou até sua própria cova
E as deixou ali em cima. Escurecia.
Orou pela salvação daquela pobre alma enterrada,
Sentou-se aos pés do túmulo
E ficou acompanhado de si mesmo até amanhecer.
Lembrava-se das coisas que fazia escondido
Quando ainda estava vivo.
Aquilo o machucava bastante.
Farto de tolerar e de suster-se em agror,
Decidiu recomeçar a vida novamente.
Levantou-se então, dos pés da cova,
Desenterrou seu cadáver pálido,
Tirou-o do caixão
E saiu andando rumo à construção de sua história...

Mas deu uns dois ou três passos e caiu.
Foi quando se deu conta de que não estava mais vivo.
E, sem ninguém para colocá-lo na cova novamente,
Seu corpo ficou deitado e jogado ali mesmo, eternamente.

domingo, 25 de novembro de 2007

Recado

Como você me tortura com a sua sensualidade casual e ímpar e seus recadinhos pós-noitada. Ah, Deus, você merece o inferno! (e uma noite comigo)

quinta-feira, 20 de setembro de 2007

Agora Vai!

Te vi ali.
Te vi aí.
Te vi aqui.

Estive em todos os lugares à sua procura.

E que esforço faço para não fazer a minha vontade
De te envolver por todos os lados...

Você se aproximou.
Eu pensando que para pedir um beijo,
Mas foi apenas para um cigarro.



PS: Esse poema teve, propositalmente, teor cômico.

terça-feira, 18 de setembro de 2007

Perigo

Quero você de cabelo solto,
Olhando para o espelho
E pensando: "Será que me atrevo
A deixá-lo louco?"

Te queria pra agora.
De qualquer forma.
Envolveria em ti meus braços.
Te beijaria aos amassos.

O Iluminado

Ele coloca seu capuz e atravessa o corredor calado
Para não ser notado por aqueles que o conhecem
E para que os que não o conhecem não sintam vontade.
E a probabilidade d'ele ficar escondido
Nas sombras de seu esconderijo
Sem que ninguém possa notar seus olhos azuis
É tão pouca que, algumas vezes, ele tem de fingir não ver
Para que possa ter cinco minutos,
Apenas cinco minutos de privacidade.
Para que nesse tempo consiga concluir tudo o que começou.

Isolado do que o cerca
Ele liberta seus demônios, que são seus poderes,
Que dizem sobre os sentimentos ocultos,
Que revelam os segredos alheios.
Através deles ele sabe quando e por que alguém o ignora.
Sabe quando há uma conspiração contra sua pessoa
Dentro do meio em que vive.
Sabe ler os lábios antes da boca abrir.
Ele consegue ser o que todos gostariam,
O que todos odeiam,
Consegue ser prestativo e inútil,
Um substituto e um apoio a quem precisa de ajuda,
E um produto ridículo e descartável
Quando quem foi ajudado encontrou uma outra pessoa.

quinta-feira, 6 de setembro de 2007

O Último Suspiro do Apelador

E seu último apelo foi:
"Aos que não gostam de mim,
venham e usem da minha arma para me executar"
E ainda hoje não entendi
Aquele seu fascínio pela morte.
(Só eu sei como o atraía).
Várias formas encontrou
De trazer para dentro de si
A companhia da figura de manto e de foice.

E foi-se. Tão distante que não o vejo desde então.
Foi-se em busca de seu prazer
E sei que encontrou dentro da ferida.
Numa de suas cartas que me escrevera,
Disse que arrancou a casquinha que todos cutucavam
Quando acordado ou quando dormindo,
E enfiou o dedo indicador
Com a unha a fazer
Para encontrar o prazer que tanto sonhou.

O sangue esparramado inundando o quarto
E os gritos segurados soltos num único ato.
Apelou num berro assustado
Seus anseios e os temores,
A vida e seus valores,
As conquistas e suas dores.
Apelou num único ato,
Dando a quem seria Judas,
Sua arma carregada
E pedindo a quem o ama
Que desse o tiro à beira da escada.

Desejos de Ninguém

Nada é para sempre.

Por isso não te quero.
Nem quero um afago.
Tampouco um carinho.
De amor nem falo.

Não digo compreensão,
Dinheiro, diversão...

Uma bebida é dispensável.
Uma mulher também, talvez.

Só quero o que é durável!

A coisa que pode ser levada
Por entre os tempos, o instável.
E é por isso que te digo:
Eu quero o nada!