segunda-feira, 3 de setembro de 2007

A Última Ceia

Quando eu morrer
Cada um sentirá o gosto da minha morte diferente.
Saborearão o doce gosto da liberdade,
O amargo e triste fim de um jovem.
Sentirão através de mim,
A essência de ser mortal
E a sensação da eternidade.
A minha morte apimentará a vida de muitos
E servirá de alimento para outros.
Sentirão, alguns, o salgado de uma lágrima só.
Se deliciarão com os pedaços das boas memórias.
Me engolirão forçados, obrigando a descer
As palavras que citei quando estava apaixonado.
Cuspirão os meus bagaços, o meu vestígio.
Me deixarão de lado, me jogarão no lixo.

Quando eu morrer
Cada qual sentirá o gosto da minha morte diferente.
Degustarão das minhas dores e me julgarão.
Criticarão as minhas atitudes e me condenarão.
E o gosto azedo das minhas qualidades
Causará indigestão àquele que me consumir.
Minha carne será como a carne suculenta de um porco.
Porém, contaminada com as cicatrizes do amor.
Envenenarão o que me resta
E darão aos cães e gatos de rua.
Descartarão todas as minhas filosofias,
Já com o prazo de validade vencidas.
Tomarão de mim os meus erros.
E quem se lembrar das minhas lágrimas
Terá de conviver com azia
Para todos os longos dias do resto de sua vida.

2 comentários:

Anônimo disse...

Tão Alvares de Azevedo...

Fá Fioretti disse...

Como já disse Vinícius de Moraes:
"... ai dos homens,
que matam a morte,
por medo da vida!"